- Mas... eu te amo!
- Não, você não me ama, Clarice.
Clarice parou de repente de andar, com os olhos cheios d’água, enquanto o via virar as costas, se afastar, queria fazer algo, mas não via o que, queria correr e segurá-lo bem forte para impedir que fosse embora, mas não conseguia, seu corpo todo havia se paralisado, como se tivesse tomado um choque, “você não me ama”, como assim? Essas palavras caíram como um peso tal em cima dela, que mesmo fazendo muito esforço não conseguia mandar ordens a seus músculos, não conseguia nem sequer pensar.
Ele continuava a se afastar, se aproximar da porta, sem nem olhar para trás, Clarice sabia que se ele chegasse a porta e a fechasse seria tarde de mais, a partir desse momento não teria mais chance nenhuma de tentar qualquer coisa. Mas a sua mente estava presa em um ponto: “é claro que eu o amo, como ele não vê? Ou será que não?” Até ali ela tinha certeza que o amava muito, um amor tamanho que não tinha olhos para mais nada, mas algo a incomodava, começava a pensar que talvez não, talvez ele estivesse certo, talvez ela não o amasse.
Mas, se não o amava tudo o que vivera fora mentira, porém ela sentia, se sentia era real, não era? Ou se enganará? Poderia o coração se enganar, fazer com que achasse que amava, mas na verdade não amava? Mas sentia, então o que sentia? Clarice não sabia mais ao certo. Talvez paixão, fascínio por encontrar alguém tão diferente, alguém que lhe ensinasse tanta coisa nova e lhe fizesse tão bem. Talvez conformismo, sendo isto não o merecia, seria ela muito criança para merecer alguém como ele?
Nesta hora um baque a tirou de seu devaneio, era o baque da porta batendo. Olhou em volta na esperança de vê-lo mais uma vez ali, sentado no sofá, ou tomando café, não estava lá. Clarice sabia, ele se foi, talvez para sempre, talvez voltasse, não sabia. Ele a amava, disso sabia, e agora, só disso que sabia. Também sabia que a porta se fechara, e, por causa de seu devaneio, não o vira sair. Agora só ficou com a imagem da porta, se ele olhou para ela antes de sair ou simplesmente saiu sem olhar para trás, Clarice nunca saberá.
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