28 de abr. de 2012

Trecho de leitura - O Guarani

“ - Por que me chamas tu Ceci?
O índio sorriu tristemente. 
- Não sabes dizer Cecília? 
Peri pronunciou claramente o nome da moça com todas as silabas; isso era tanto mais admirável quanto a sua língua não conhecia quatro letras, das quais uma era o L. 
- Mas então, disse a menina com alguma curiosidade, se tusabes o meu nome, por que não dizes sempre? 
- Porque Ceci é o nome que Peri tem dentro da alma. 
- Ah! É um nome da tua língua? 
- Sim. 
- O que quer dizer? 
- O que Peri sente. 
- Mas em português? 
- Senhora não deve saber. 
A menina bateu com a ponta do pé no chão e fez um gesto de impaciência. 
D. Antônio passou; Cecília correu ao seu encontro. 
- Meu pai, dizei-me o que significa Ceci nessa língua selvagem que falais. 
- Ceci!... disse o fidalgo procurando lembrar-se. Sim! É um verbo que significa doer, magoar. 
A menina sentiu um remorso; reconheceu sua ingratidão; e lembrando-se do que devia ao selvagem e da maneira por que o tratava, achou-se má, egoísta e cruel. 
- Que doce palavra! Disse ela a seu pai, parece; um canto de pássaro. 
Desde este dia foi boa para Peri; pouco a pouco perdeu o susto; começou a compreender essa alma inculta; viu nele um escravo, depois um amigo fiel e dedica. 
- “Chama-me Ceci, dizia às vezes ao índio sorrindo-se; esse doce nome me lembrará que fui má para ti; e me ensinará a ser boa.” 


O Guarani – José de Alencar

14 de abr. de 2012

Simples devaneio

O que me leva a escrever? Uma pergunta me feita uma vez, em muitas ocasiões, cada resposta era uma resposta diferente, um motivo diferente, mas não é por isso que todas as respostas são falsas, mas também não é por isso que todas as respostas são verdadeiras. Talvez só me tenham feito à pergunta errada. Qual seria a certa? Não tenho certeza. Mas talvez: você o porquê que você escreve? Resposta: não faço a menor ideia. Sim, é possível não fazer ideia do porque se escreve, sobre o que escreve, simplesmente se escreve. 

Tenho hipóteses que podem responder essa pergunta, algumas respondem bem, outras deixam explicações vagas. Hipóteses que podem se tornar teorias pelo simples fato de serem baseadas em argumentos bem fundamentados, mas não quer dizer que seja verdade. Escrevo porque me sinto bem escrever, porque saio de mim e vejo o mundo de outra maneira, porque gosto de ver as letras organizadas em palavras e as mesmas formando frases coerentes e com sentido completo. Coerente? Talvez nem tanto, talvez puros devaneios de uma mente cansada de procurar respostas para as perguntas que não se fazem. 

E já que as minhas frases talvez não tenham coerência por que o texto precisa ter? Um texto feito por junções de frases desconectas (como este) pode ter a capacidade da coerência? Ou ao menos necessita tê-la? A coerência é mero requisito para uma escrita formal, este texto não tem a pretensão de ser formal, nem ao menos informal, só tem a pretensão de ser um texto. Não o julgo capaz nem de ser dotado de sentido. Se não PE um texto formal não tem a necessidade te ter um começo, um meio e um fim, sendo assim talvez caiba a mim, simplesmente, acaba-lo abruptamente.

5 de abr. de 2012

Inevitável reflexão

Porque você não sai da minha cabeça, não adianta, não sai, seus cabelos, macios como a malha mais confortável de se cobrir, da cor do lírio (se é que eu conheço a cor do lírio), seus olhos que ao mesmo tempo que distantes também penetram em mim como que tentando descobrir meus segredos, meus pensamentos, tentando descobrir o “eu” que tento manter seguro lá dentro de mim por simples segurança. Sua voz que seu sotaque da um quê especial, suave, segura, acolhedora. 

Mas não só sua imagem que não sai da minha cabeça, todo o tipo de pensamento referente a você, a ideia de como o destino (se é que há um) traçou nosso encontro, a ideia de ter ao mesmo tempo tão perto e tão distante, as perguntas sem resposta, as que perguntas que não tem resposta imediata, e as que sequer tem resposta: será que vai dar certo? Será que é real? Tenho certeza de que não estou sonhando? Será que é o momento, o instante ou é para sempre? Respostas que só o tempo dirá. 

Mas de uma forma ou de outra a saudade bate, e bate forte, a vontade de te ver, de te ter junto a mim, passar as mãos em seus cabelos, olhar em seus olhos, sentir teu toque, ouvir sua voz dizendo que sentiu minha falta, que me quer, que me ama, te abraçar forte, dizer que te amo. A distância, o tempo, o que são? São meras barreiras momentâneas que o próprio tempo transformara em pó, muros que são escalados aos poucos. O que mais interessa no momento? Não sei, talvez o sentimento, talvez a razão, talvez simplesmente o tato, também o que importa? Quando estou com você: nada importa, tudo importa.