8 de ago. de 2012

Paz em plena guerra

Em um cenário de guerra, onde não existe um minuto de silêncio, onde sempre há movimento, gritaria, estardalhaço, onde bombas estouram sem nenhum aviso prévio, tiros são lançados de tempos em tempos em alvos aleatórios. Um lugar no qual o peso do ar é tamanho, o fato de estar ali obriga a também lutar, a tomar partido, no qual a pressão se torna tão grande que o próprio ambiente, por mais que aberto, ameaça explodir em fagulhas a qualquer momento. Neste cenário ele caminha. 

Ele caminha demoradamente para o centro do cenário, passo a passo, e a cada um relembrando um momento da sua história. Talvez pensando que pudesse ter sido melhor, ou talvez pensando que não poderia ter sido melhor. Para em um momento, olha para os lados e observa cada pessoa lutando com todas as suas forças por uma causa que considera justa e verdadeira, mas que na verdade não passa de futilidade e busca de autoafirmação. Ele olha para cima, quem sabe em busca de um sinal de paz, mas só vê tiros e fagulhas voando por sobre sua cabeça. Então ele senta. 

Sentado percebe que a aflição das pessoas não passa de medo, medo de não ter ninguém, de não ser aceito, de não alcançar um objetivo, de não ter parte no resultado do fim da guerra, que elas têm esperança de que a guerra vai acabar, mas têm medo de que não acabe. Mas não percebem que essa guerra na verdade esta no interior de cada um, que é justamente o próprio medo de que não acabe que não deixa acabar. Ele olha novamente ao redor, e o que passa pela sua mente é o cenário é o mesmo sempre, e nós fazemos dele o que queremos. 

Sua visão turvou por um momento, não via mais pessoas, só vultos, correndo de um lado pro outro. Fechou os olhos, e resolveu deitar. Ele sentiu o chão frio, sentiu a vibração dos passos em volta, ainda ouvia os barulhos de guerra, mas agora queria acredita que estava em paz, que estava no seu cenário. Ele abriu os olhos, mas agora não viu os tiros e fagulhas voando por cima de si, agora ele viu o céu azul escuro ao fundo do movimento, pela primeira vez notou o quão bonito era aquela cor, e o movimento que via a frente, via estrelas cadentes, rabos de cometas, via um mundo alheio ao mundo que ouvia e sentia.

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